E se eu retrogar?

O temor dos não fiéis seguidores da astrologia e até mesmo daqueles que já compreendem os efeitos que certos astros podem causar na nossa vida, a retrogradação, continua sendo vista como algo negativo e que pode causar danos sérios. De certo modo, tenho pés atrás com tais momentos de pausa dos planetas mas uso deles para parar também.


Quando entendi que na verdade o "andar de ré" de mercúrio não era o fim do mundo e só um momento de parar um pouco e analisar certas situações, certas situações passaram a ser tratadas de outras formas. Tomei para mim que tal momento astrológico teria um papel de reflexão. Meu psicólogo sempre se diverte quando falo sobre astrologia em nossas sessões, mas de certo modo sempre utiliza desse caminho para tornar mais lúdico alguns apontamentos.

Em uma das nossas diversas sessões, o assunto com toda certeza não envolvia meus posicionamentos astrológicos, enquanto apontava o medo do futuro para justificar uma agenda impraticável para minha saúde ouvir dele que "reduzir não é parar". No mesmo instante lembrei que os planetas não param, eles retrocedem.

Será que poderia ser eu um planeta em retrogradação?

Não consegui aproveitar o embalo de vênus e mercúrio retrógrados, e por mais que mercúrio vá durar um pouquinho mais eu comecei um pouco atrasado esse momento de parar e olhar com mais atenção algumas coisas.

Ontem enquanto chovia nas janelas do ônibus comecei a folhear as páginas do meu caderno, revisitando cada texto possível de visita. Alguns ainda carregam a alegria e outros a dor do momento de concepção. Outros rascunhos e rabiscos me tornam mais humanos e trazem mais esperança diante das páginas ainda em branco.

É muito legal olhar para dentro de mim através daquilo que coloquei para fora, pequenas sessões de biópsias.

Entre os textos, me deparei com uma pequena flor que uma amiga que agora está a um oceano de mim arrancou de um jardim e brincou, logo depois a guardei por algum motivo. A flor ainda carregava aquele cheiro de mato e me lembrou da minha amiga.

Em outra página, um rabisco, rasurado de um momento que desejei muito o amor que vivo hoje mas não sabia que poderia alcançar. Muitas páginas depois, ou nem tanto, a caneta acostumada a falar do desamor, agora tem que aprender a contar sobre o amor.

Tenho mais alguns dias de descanso ou de desaceleração de mercúrio e depois creio que as coisas vão voltar para sua correria normal. Eu queria muito viver desacelerado mas não consigo até lá, vivo aproveitando as brechas astrológicas.



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