Pensando e elaborando, o luto e a luta.


[Esse texto pode ser reformulado, alterado ou simplesmente apagado mediante a vontade do autor]

Hoje não foi o dia fácil, na verdade não venho tendo dias fáceis! Meus dias estão sendo frutos da minha constante buscar por sanar minhas falhas e tentar ser o melhor, numa tentativa que vem me esgotando, drenando e classicamente atrapalhando o desenvolvimento do básico no meu dia à dia! São curtos dias, longas listas de obrigações que se acumulam manhã após manhã.

Rita Lee faleceu essa semana, e eu de certo modo continuo inacessivelmente sendo atravessado pelo luto! Rita não era minha avô, não era minha mãe, não era uma prima, não era minha irmã, Rita muito menos sabia quem eu era. Mesmo nessas circunstancias sua partida me abalou. 

Não sei se foi a coincidência da doença que mais me causou dor ou o fato de alguém que não me conhecia poder me tocar tanto com seu trabalho. Na verdade não é muito complicado me tocar com música! A aleatoriedade da vida me fez uma pessoa apaixonada por música. 


Tenho nas minhas primeiras memorias: Música! Cantarolei uma hoje no banheiro de uma época de que meu mundo já era saudades, essas somente pela distância física de Dona Hilda, que adorava cantar esse louvor para mim. Na verdade ela gostava de cantar muitas coisas e eu queria ter ouvido muito mais.

Lembro também de todas às vezes que fiz companhia a meu pai e escutei uma boa moda de viola! Meu pai chegou até o sertanejo dos anos 2000, parou nisso ou eu parei de acompanhar suas mudanças de repertório. Mas ainda consigo me emocionar escutando alguma antiga do Zezé e Luciano, se tocar Daniel ou Leandro e Leonardo...

Seu Eladio gostava de Gonzaga e Gonzaguinha, muito forró mas não foi isso que escutei logo depois de sua partida. Enquanto zapeava de canal e canal tentando preencher aquele vazio estranho de não ter sua presença escutei pela primeira vez a voz que me acompanharia lá na frente. 

Ela também é ruiva, ou virou assim com fez Rita e faço eu quando preciso de forças. Alguns anos depois eu acabei de esbarrado de forma mais consciente com uma inteira discografia de uma inglesa um pouco perturbada, um pouco mágica, um pouco tudo.

 Enquanto eu descobria um novo mundo aquela mesma música que escutei em 2013 voltou fazer sentindo agora enterrando novamente alguém que amava. Retornei bruscamente para aquele lugar de passar horas em um mundo só meu, um afastamento quase que necessário diante de tudo que passei e passaria naquele ano que só séria o inicio de uma série histórica de desgraças seguidas na minha vida. 

Na música foi que eu encontrei certo alivio e até mesmo compreensão! O cristianismo já não me abraça, a partilha da dor com que eu amava me afastava, a necessidade de fugir se fazia latente. Eram horas e horas dedicado a entender cada verso, estrofe, arranjo, nota, instrumento, cada mínimo detalhe que pudesse me remover da realidade. 

Me transportar para um mundo onde tudo estive na palma da minha mão! Foi isso que meu psicólogo concluiu depois de compreender como a música funcionava na minha vida! Uma fuga, pensada? Talvez! Desejada? Sim! 

Os últimos anos foram quase que todos dedicados a pensar, elabora e lutar contra o luto, se é que isso é possível. Uma missão semanal de encontrar alternativas, caminhos e possibilidades de agora sentir de uma forma quase que esquematizada e não paralisante todo esse peso acumulado.

Uma das coisas mais interessante nesse trajetória de luto e música foi como pude correlacionar minhas fases mais sombrias com os trabalhos mais doloridos e agora no momento presente ter todo esse processo de compreensão do luto também correlacionado com momento mais verdadeiro do trabalho da Florence.

Não sei qual a brincadeira do destino mas ao mesmo tempo que tomo para mim os últimos anos de luto, pude sentir essa sensação a cada linha escrita por ela no seu último álbum. E se um dia cantamos que " outra noite seriamos livres", hoje podemos cantar "como é bom estar viva à meia noite".

Eu pensei e elaborei muito aqui... mas não acabou e quem sabe eu não volte um dia para concluir o dito aqui.


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