Todas as vezes que escuto tento lembrar

 

Era uma sexta ou um sábado, não sei ao certo, sei que naquele momento eu não entendia muito bem o motivo pelo qual eu estava naquele carro fazendo aquele exato caminho para um lugar que perdia seu propósito.

Não sei se faziam semanas, ou se já se havia completado um mês, minhas memórias ficam meio turvas quando tento me recordar de tudo que passei naquele ano. Não era fácil, eu já quase tinha decorado aquele caminho, talvez fosse capaz de apontar minhas árvores favoritas, minha curva mais detestável, mas tem uma certa ponte que até hoje abaixo a cabeça pelo frio na barriga que ela me causa.

Também tinha os lugares que eu jurava que em algum momento tomaria coragem de pedir a pai para parar o carro somente para fazer uma foto. Aquela entrada da fazenda com belíssimas bouganvilles e um portão branco. Tem um barraco que sempre achei que me serviria de ótima locação. 

Mas temia expressar qualquer desejo muito vulgar ou banal naqueles meses cruzando aquela estrada, indo e voltando, quinzenalmente, às vezes semanalmente. Mas dessa vez era diferente. Achei que a presença de Letícia e Bia tornariam aquele trajeto menos solitário.

De certo modo todos nós tínhamos a estranheza daquele primeiro retorno, não sabíamos ao certo como estariam as coisas depois dela ter ido. Talvez eu já soubesse, talvez até pai temesse fazer aquele caminho. Não ocorreu do mesmo jeito, tivemos problemas na estrada e pegamos um novo caminho.

Algo novo foi adicionado, era a primeira vez que escutava esse álbum, me lembro de tentar me agarrar a empolgação, mas me lembro também de Levy falar que esse era meio diferente de tudo que ela já tinha feito. Diferente, será que poderia encontrar algo diferente quando chegasse.

Não foi diferente… Na verdade, depois desses anos consigo ir, mas no regresso sempre parece que algo deveria ter acontecido, um café que eu deveria ter tomado, um colo que eu deveria ter ganho, um beijo, aquele abraço…

Brinco sempre que o que sei sobre o amor foi mãe que me ensinou, mas no fim todos nos sabemos que o que sabemos pelo amor foi outra mãe que nos ensinou. Você me chamava de Gabriel, malandrinho, neto… mas nunca foi sobre como me chamava, mas sim sobre o tom musical que sua voz carregava.

Eu às vezes evito escutar esse álbum. Sinto que em algum lugar vou lembrar do grande deus que eu precisava para me salvar e te salvar. Sempre vou lembrar de todas as estrelas que você contava e de como você nos guiava, sobre nossa fé em você.

No fim, todas às vezes que escuto tento lembrar...




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