Urgência do renovo, o desespero do perpetuar

Estou começando a achar que estou implicando demais com ano novo mas sempre teve algo meio claustrofóbico na ideia de um novo começo e a repetição do medo de começos fica muito clara quando chega no dia 31 de dezembro. Ao mesmo tempo que aparentemente estamos gratos por tudo aquilo que conseguimos no ano que nos deixa, estamos desesperados para deixar ele para trás.

Caoticamente a sensação é de eterna insatisfação com aquilo que está ficando para trás e de infinito desejo no sonhar de um amanhã melhor! E jamais julgarei a vontade de um dia melhor (desejo ao qual compartilho) mas ao contrassenso não existe algo meio perturbador em sempre esperar o amanhã?

De um local de pessimismo me parece sempre ilusório a ideia de que novos começos podem resetar ou de forma simplista promover novas oportunidades enquanto tudo aquilo que foi produzido, idealizado, projetado e mesmo iniciado vai ganhando um ar de “abadonado”.

Sabe quando éramos crianças e de repente ao ganharmos um brinquedo novo, aquele que teoricamente era nosso favorito, passa a acomula poeira em algum canto da casa,pois, minha visão sobre o ano novo tramita neste campo. É como sempre estivemos esperando o novo brinquedo para desgastar, enjoar, danificar.

É gritante a vontade de que temos de fugir daquilo que estamos vivendo ( novamente, compartilho em diversos momentos). A simples ideia de perpetuar tudo que foi sendo sentido e elaborado na última volta solar faz com que o desejo pelo renovo se transforme numa obsessão ilusória de solução.

O ano virou, passei debaixo do chuveiro, embaixo da água na esperança de que 2022 escorresse pelo ralo! Mas simplesmente não somos brancos calendários que se iniciam no dia primeiro de cada ano. A contradição no credo da mudança se faz no exato ponto que sabemos que pouco ou nada mudará mas a não crença é somente perpetuar o que queremos deixar.


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