Meus pés não sabem sambar

Estão lá antes mesmo da minha memória, e a memória está lá antes deles, mesmo assim meus pés não sabem sambar. Mesmo ao som do pandeiro e do cavaquinho, os movimentos executados não se parecem com aqueles que invejavam nos desfiles das escolas de samba.

Porém meus pés sabem caminhar, e assim coloquei eles pela cidade atrás de sambas. Interessante rodar e perceber como os movimentos que meus pés fazem não são tão diferentes daqueles que aquela moça fazia com as mãos no atabaque. Tampouco dos pés daquele moço do outro lado da rua, tão tímido quanto eu naquele primeiro momento.

Mas para a timidez achei uma rapida solução! Encontrei companheiros, pares de dança para que naquele momento existisse um certo ar de comunidade e união enquanto nossos sapatos levantam a poeira daquelas ruas. E quando digo que caminhei atrás do samba é porque me lembrei da cidade de forma muitas vezes precipitada.


No pelourinho, num domingo à noite tive o total desprazer de a todo momento que entrava em um espaço, ali se encerrava o batuque e um novo movimento em busca era solicitado. Esses movimentos geraram diversas outras histórias que começaram somente por um desejo de sambar.


Com este fracasso, me locomovi em outro domingo para o centro da cidade e aí sim pude aproveitar um samba sem interrupções. Pude finalmente deixar o cansaço me derrotar e me fazer voltar para casa, mas até lá, eu sambei muito. Um momento de fato elucidativo.


Um domingo quente que não prometia nada, de repente se transformou num domingo mais quente ainda mas agora enfeitado pelos mais diversos corpos, cabelos e roupas. O som dos instrumentos se embaralham com as vozes, as batidas de pé.


Não satisfeito resolvi tentar uma alternativa talvez mais jovem e nova. Agora numa quinta feira, arrasto novamente amigos pela cidade e novamente, dessa vez com muito mais confiança coloco meus pés para se movimentarem. Não acredito que alcancei o que queria em relação ao sambar, mas tenho algumas certezas.

Nessas andanças observei o mais importante do samba: A comunidade. Ou o ato de se viver em comunidade, poucos são aqueles que não estavam em grupos em todos esses relatos. Todos celebrando alguma coisa ou às vezes tentando extravasar.


Terminando esse texto pensando nas histórias e lugares que irei conhecer nos próximos movimentos dos meus pés por essa cidade. E quem sabe da próxima vez eu já possa dizer que meus pés aprenderam a sambar.


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